
O filme "A Substância", dirigido por Coralie Fargeat e lançado em 19 de setembro de 2024, traz de volta às telas a icônica atriz Demi Moore, ao lado de Margaret Qualley. Em uma narrativa que explora as pressões estéticas de Hollywood e a busca incessante pela juventude, o longa-metragem se posiciona como um marco no subgênero do Body Horror, já sendo aclamado pela crítica.
Sinopse e Temática
Na trama, Elizabeth Sparkle, interpretada por Demi Moore, é uma atriz veterana que vive o declínio de sua carreira, muito em função das exigências do mercado cinematográfico por juventude e beleza. À beira do esquecimento, Sparkle encontra uma substância misteriosa que promete rejuvenescer seu corpo e espírito, mas que, na verdade, cria uma versão completamente nova de si mesma: Sue, vivida por Margaret Qualley. Com essa transformação, surge um conflito entre a velha e a nova versão da personagem, gerando consequências devastadoras tanto física quanto emocionalmente.
A obra, que foi ovacionada por 11 minutos no 77º Festival de Cannes, onde também recebeu o prêmio de Melhor Roteiro, é um retrato visceral do culto à juventude que permeia Hollywood. Com a utilização de elementos grotescos e viscerais, o filme utiliza o Body Horror como ferramenta para denunciar a obsessão da indústria com a aparência física, especialmente a feminina.
O Terror do Corpo: O Body Horror em "A Substância"
O Body Horror é um subgênero do terror que foca na deformação, mutilação e transformação do corpo humano, causando desconforto e repulsa no espectador. Desde sua conceitualização pelo crítico Phillip Brophy em 1983, o gênero tem sido explorado por diversos cineastas, sendo David Cronenberg um de seus maiores expoentes com filmes como "A Mosca". Em "A Substância", Coralie Fargeat aprofunda-se no tema ao retratar a transformação corporal de Elizabeth em Sue, uma metáfora para as mudanças estéticas impostas pela indústria.
A transformação de Elizabeth não é apenas física, mas também psicológica, à medida que sua nova versão, Sue, começa a tomar controle de sua vida. A dinâmica entre as duas personagens é tensa e perturbadora, remetendo a clássicos como "O Retrato de Dorian Gray", onde a juventude eterna também é buscada a qualquer custo. No entanto, em "A Substância", essa busca é ainda mais brutal, com cenas gráficas que levam o conceito de rejuvenescimento ao extremo.
As Atuações de Demi Moore e Margaret Qualley
Tanto Demi Moore quanto Margaret Qualley entregam performances poderosas e profundamente imersivas. Moore, que não protagonizava um filme de terror até então, surpreende ao se entregar completamente ao papel de Elizabeth Sparkle, mostrando uma faceta mais vulnerável e intensa. Sua interpretação é considerada por muitos como a melhor desde "Até o Limite da Honra" (1997).
Já Qualley, como a jovem e sedutora Sue, navega entre o encanto e o terror com maestria, criando uma personagem que inicialmente parece perfeita, mas que gradualmente revela seu lado mais sombrio e destrutivo. A química entre as duas atrizes é palpável, elevando o impacto emocional do filme e o levando para além de um simples exercício de horror corporal.
Hollywood e o Padrão Inatingível de Beleza
O filme também se destaca por sua crítica social. A obsessão de Hollywood pela juventude e beleza é amplamente conhecida, e "A Substância" explora essa questão de maneira incisiva. A personagem de Moore, Elizabeth, representa todas as mulheres que, ao envelhecerem, são descartadas pela indústria em favor de rostos mais jovens e corpos mais perfeitos. Essa pressão constante para se manter "perfeita" leva Elizabeth a tomar decisões extremas, refletindo o ciclo vicioso da autossabotagem que muitas figuras públicas enfrentam.
A diretora Coralie Fargeat utiliza de uma linguagem visual provocativa e, muitas vezes, chocante para tratar dessas transformações corporais. As cenas de mutação e regeneração de Elizabeth/Sue são intensas, remetendo diretamente ao trabalho de Cronenberg em filmes como "Crimes do Futuro" e "Titane", onde a modificação corporal é usada como uma forma de expressar os horrores da sociedade contemporânea.
Conclusão: Um Novo Clássico do Body Horror
"A Substância" é mais do que apenas um filme de terror; é uma reflexão crítica sobre a forma como a indústria cinematográfica enxerga e trata as mulheres. A combinação de um roteiro afiado, atuações brilhantes e a direção corajosa de Coralie Fargeat faz com que o filme se destaque no cenário contemporâneo do horror. Com uma estética que transita entre o grotesco e o sublime, o longa deixa claro que a busca pela perfeição é, muitas vezes, o caminho para a destruição.
Através de um uso magistral do Body Horror, o filme não só provoca repulsa, mas também empatia, fazendo o espectador refletir sobre as pressões desumanas que muitas mulheres enfrentam diariamente. "A Substância" é, sem dúvida, uma das obras mais marcantes de 2024 e um forte candidato a se tornar um clássico do gênero.