
A intensa crise no Líbano, marcada por bombardeios e conflitos armados, levou o governo brasileiro a implementar a Operação Raízes do Cedro, com o intuito de repatriar cidadãos brasileiros que se encontram na região. A operação teve início na madrugada do dia 2 de outubro, quando um avião KC-30 da Força Aérea Brasileira (FAB) decolou da Base Aérea do Galeão, no Rio de Janeiro. A aeronave fez uma parada técnica em Lisboa, Portugal, antes de seguir para o Brasil.
Entre os repatriados, uma criança foi uma das primeiras a desembarcar, segurando uma bandeira do Líbano. Em contrapartida, um outro brasileiro, ao sair do avião, ergueu as mãos para o céu em sinal de gratidão e imediatamente abraçou o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que estava presente para recepcioná-los. Ao todo, 228 pessoas estavam a bordo, incluindo 10 crianças de colo e três animais domésticos.
A necessidade de repatriação
A situação no Líbano se agravou com os bombardeios aéreos de Israel, que têm como alvo o grupo extremista Hezbollah. Desde o início do conflito, que se intensificou a partir do dia 20 de setembro, duas mortes de cidadãos brasileiros foram confirmadas. A crescente tensão levou aproximadamente 3 mil brasileiros a manifestar o desejo de retornar ao país. A maioria reside na capital Beirute e na região do Vale do Bekaa.
Conforme o brigadeiro Marcelo Kanitz Damasceno, comandante da Aeronáutica, o Brasil possui capacidade para resgatar até 500 pessoas por semana. O Ministério das Relações Exteriores (MRE) está em constante contato com a embaixada em Beirute para organizar novas operações de repatriação, uma vez que o número de brasileiros interessados em retornar tem aumentado.
A trajetoria dos repatriados
O estudante Karim Halawi, de 21 anos, contou sua experiência após ter que deixar o sul do Líbano, onde estava de férias com o avô. Ao se deparar com os barulhos da guerra, ele se deslocou para Beirute em busca de segurança, apenas para descobrir que os combates haviam chegado à capital. A felicidade de retornar ao Brasil foi um alívio para ele, que agora pode reencontrar sua família.
Outro repatriado, o empresário Salim Kazem Kalaoun, de 76 anos, expressou sua preocupação com a escalada do conflito e pediu paz entre os povos da região. Nascido no Líbano, ele chegou ao Brasil ainda criança e, em sua fala ao desembarcar, criticou as ações de Israel, chamando o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu de "terrorista". Salim enfatizou a necessidade de um cessar-fogo permanente para evitar uma guerra de grandes proporções.
Reforços na operação
Após a chegada da primeira leva de repatriados, a FAB já se preparou para um segundo voo, que partiu de Guarulhos, em São Paulo, em direção a Lisboa, onde aguardou autorização para seguir a Beirute. O comandante Damasceno informou que o objetivo é continuar realizando essas operações a cada 48 horas, para atender à demanda crescente de brasileiros que desejam voltar.
Durante o recebimento dos repatriados, o presidente Lula reafirmou a importância da paz e da reconstrução da vida dos cidadãos afetados pelo conflito. "O Brasil é generoso. Não tem contencioso com nenhum país porque a gente não deseja guerra. A guerra só destrói", declarou, ressaltando o compromisso do governo em proporcionar um ambiente seguro e acolhedor para todos os brasileiros.
Um olhar para o futuro
As operações de repatriação, além de garantir o retorno seguro dos brasileiros, também demonstram a solidariedade e o compromisso do Brasil com seus cidadãos em situações de crise. Com a equipe multidisciplinar a bordo dos voos, composta por médicos, enfermeiros e psicólogos, a FAB busca não apenas trazer os repatriados de volta para casa, mas também oferecer o suporte necessário para que eles possam lidar com os traumas e desafios decorrentes do conflito.
A expectativa é que, ao longo das próximas semanas, mais brasileiros possam retornar ao país, permitindo que suas histórias de recepção e esperança se multipliquem. A Operação Raízes do Cedro representa, assim, não apenas uma ação de resgate, mas também uma reafirmação dos laços entre o Brasil e sua comunidade global, reforçando a importância da paz e da solidariedade em tempos de crise.